quinta-feira, 19 de abril de 2012

Enfim o TUCUM "5 Estrelas"



Para aqueles que tem acompanhado as aventuras da equipe, sabem muito bem de onde surge essa empreitada. Explico àqueles que não acompanham nossas pernadas.
Toda esta história surge com a almejada subida ao "PP" (Pico Paraná), que posteriormente, no plano real, tornou-se o "Survivor no Ibitiraquire".

Depois de enfrentarmos certas lutas na caminhada pela região do Ibitiraquire, incluindo a minha sina, isto é, se tornar Sherpa de malucos desvairados (meus colegas de montanha), quando chegamos no cume do Caratuva, segunda maior montanha do sul do país, abortamos o Pico Paraná, devida a falta de recursos energéticos por parte dos dois colegas de equipe (Lucas e "Chaleira" - depois eu explico), e decidimos que a próxima empreitada seria luxuosa, com direito à queijos finos, vinho, chimarrão e muito mais da culinária de montanha.

O enredo veio a ser real. No dia 09 de março de 2012, eu (Rodrigo) e meu colega Lucas entramos em contato e nos programamos para a subida ao Tucum no dia seguinte, com direito a "tudo" que um hotel "5 estrelas" poderia proporcionar!

Neste meio tempo, de forma inesperada, sempre há um integrante da equipe que faz tudo as pressas, pois é, este é o nosso amigo Jonathan, ou melhor, Chaleira, que pegou o ônibus de madrugada para estar em Curitiba pela manhã. Adivinhem ele se atrasou, claro! Aliás, sem dinheiro!

Eu e o Lucas na noite anterior arrumamos nossas cargueiras com uma carga ignorante! Comida abundante, dentre as opções de cardápio surge panettone, pêssego em calda, queijo provolone, vinho tinto seco, macarrão, frutas, bolachas, sucos, chimarrão, frango e proteína liofilizada e muito mais! Eu e o Lucas, ao todo, levamos 10 litros de água. Realmente ignorantes.

De forma distinta e peculiar, nosso camarada Chaleira, quando avistado na rodoviária, surge como uma figura típica! Um nobre esportista com equipamento de ponta! Ponta de estoque! Brincadeiras a parte, seu equipamento é para macho! O bicho é extremamente minimalista, ou seja, não se apega aos prazeres de equipamentos caros e de vanguarda.

Não por menos, quando ele se aproxima do carro surge por trás de sua cargueira uma enorme Chaleira pendurada. Sim uma chaleira! O motivo? Um nobre e quente chimarrão! Ora, grande ideia teve nosso amigo, pois desta ideia, da configuração da mochila contrastando com o ambiente de montanha e o constante barulho do balançar da nossa amiga de guerra - Chaleira - surge o primeiro nome de montanha do Jonathan, ou melhor, seu nome de batismo: Chaleira!

Histórias vão e vem e com toda certeza irão continuar a existir, mas vamos ao que interessa, o relato da trilha, suas características e algumas dicas breves àqueles que não a fizeram.

Como de costume, vamos fazer um breve relatório sobre a montanha em si. O Tucum é uma das montanhas que integram a cadeia de montanhas do conjunto do Ibitiraquire. Possui aproximadamente 1720 metros de altura, sendo uma das mais belas montanhas da região por conta de seus pontos nivelados e ampla visão do local. A trilha dura em torno de 8 horas, caminhando carregado e em ritmo brando. A temporada adequada é a padrão do local, isto é, inverno, porém como nós fizemos, pode ser frequentada durante todo o ano.

Existem dois pontos de acesso à montanha, o mais fácil, pela fazenda do "bolinha", subindo o Camapuã (outra montanha da região) para chegar ao Tucum, e o mais difícil, pela fazenda do Pico Paraná (Rio das Pedras), acessando pelo cume do Itapiroca (outra montanha da região).
Para os montanhistas e caminhantes que não conhecem bem a região, prefira o primeiro caminho, pois além de mais fácil é mais frequentado por caminhantes e bem demarcado.

Deste caminho mais fácil é que faremos o relato, ou seja, o caminho acessando pela fazenda do "bolinha".

Tecidas tais considerações vamos a trilha!

Primeiramente, destaco que o acesso mais próximo é pela conhecida fazenda do "Bolinha", antigo cachorro que habitava o o sítio onde a trilha se inicia. Fato que o cachorro morreu há muito tempo, pois ninguém na região conhece o local como fazenda do "bolinha", razão pela qual perguntar por fazenda do bolinha, caso você se perca, não vai adiantar nada!

Para chegar ao local, é simples, um pouco antes do posto Tio Doca existe um outro posto no sentido Curitiba - São Paulo. Este posto fica logo após uma ponte. Passando este posto, que é relativamente pequeno para postos de estrada, entre na próxima estrada de terra, a qual o levará para a região da lagoa vermelha (existe uma plaquinha na entrada da estrada), siga pela estrada principal até o final. A estrada acaba no sítio. Para deixar mais claro, no final colocaremos um mapa para localização.

Ao chegar no sítio, você perceberá que o local não possui nenhum tipo de infraestrutura, ou seja, vá para lá preparado, o local só serve como ponto de partida e estacionamento. O valor por pessoa para acessar o local e deixar o carro, com posição em 10/03/2012, é de R$ 5,00.

Partindo do estacionamento, logo acima a trilha se inicia após um portãozinho. Algumas centenas de metros, subindo em linha reta, após o portão, você entrará em uma mata densa e passará a ouvir o barulho de água. Sim a trilha durante um longo trecho é acompanhada de fonte de água, ou seja, água no local não é um problema, contudo se abasteça bem antes da subida do Camapuã, montanha de acesso ao Tucum, pois depois são raros os pontos de água e atualmente se encontram secos.

Não há erros. A trilha é bem marcada por fitas e o caminho é bem batido. Muito embora a trilha seja pouco movimentada, em regra, os caminhos são bem preservados, então o caminhante não encontrará maiores problemas em relação à localização e progressão na trilha.

Durante a caminhada, antes da subida ao Camapuã, o caminhante cruzará necessariamente três rios para continuar a trilha. O primeiro é logo no início da trilha, onde se há uma visibilidade muito boa da continuidade da trilha. O segundo rio é após uns 40 minutos de caminhada apresenta um ótimo local para descanso, pois faz uma espécie de cachoeira que mais parece uma obra das mãos humanas, contudo a natureza e a criação divida são muito mais precisas que as mãos do homem. Igualmente ao primeiro rio, o segundo rio a cruzar é raso e a continuidade da trilha é facilmente visível, sendo marcada por fitas. Diferentemente dos outros dois primeiros rios, o terceiro rio é raso, contudo a continuidade da trilha não é bem visível, siga alguns metros rio (aproximadamente 5 metros) abaixo, da trilha pela qual você veio, e procure na margem oposta a marcação da trilha feita por fitas. Destacamos que este será seu último acesso à água 100% livre de contaminação. Existem pontos de água após, contudo o fluxo de água varia e a limpidez igualmente.

Superado o terceiro rio, siga em frente e contemple as enormes e majestosas árvores pelo caminho, as inúmeras borboletas brancas gigantes que voam em bandos. Continue sempre na trilha demarcada, prestando muita atenção ao caminho, pois ainda que fácil sempre há possibilidade de engando em momento de desatenção.

Após uma longa caminhada, encontra-se uma pequena placa fixada em uma árvore (preste atenção!) que aponta dois caminhos, o caminho à esquerda leva ao Camapuã e consequentemente ao Tucum, o caminho à direita ao Ciririca. Siga o caminho à esquerda, pois o caminho que o levará ao Ciririca parecerá eterno e realmente é!

Após tomar o caminho à esquerda, inicia-se uma longa e constante subida a qual terminará na saída da mata logo aos pés do Camapuã.

Considero, em minha opinião, uma das subidas carregadas mais frustrantes da região. Justifico. Frustrante não em relação ao ambiente, o qual é absurdamente belo e inspirador, quem sabe só a natureza e Deus motivem a empreitada, mas frustante no aspecto pessoal, pois quando se tem impressão que aquela muralha infinita está prestes a acabar, eis que surge mais uma nova encosta exposta em inclinação continua para ser superada até o cume do Camapuã.

Superadas as duas plataformas que tem inclinação de aproximadamente 55° em relação ao plano horizontal, aproveite a bela e única visão do Tucum e, igualmente, a vista dos colossos Pico Paraná, Ciririca e Conjunto Marumbi, bem como para uma pausa e descanso.

A caminhada até o cume do Camapuã deverá durar em torno de 4-8 horas dependendo do ritmo dos caminhantes. Saindo antes do almoço, em ritmo leve e carregado, será costumeiro chegar ao cume do Camapuã por volta das 17:00 horas. Descanse, mas não perca os próximos preciosos minutos de sol para subir o Tucum.

Pois é, subir o Tucum. Para se chegar ao Tucum é necessário descer o Camapuã, seguindo pelo cume dele em linha reta, descendo pela cela entre as duas montanhas. Há alguns anos, no ponto mais baixo do vale entre as duas montanha, à esquerda, em meio a mata, existia uma pequena bica, a qual estava, na época que fomos, seca.

Do vale entre as duas montanhas, inicia-se uma breve subida, de aproximados 40 minutos, até o cume do Tucum. Siga pelas trilhas batidas no chão. Cuidado em alguns pontos existem gretas escondidas entre pedras que se aglomeram. Estas fendas são escondidas pela vegetação, então tome cuidado em alguns pontos, contudo o caminho, como um todo, é bem tranquilo.

Chegando ao cume do Tucum, existem fundamentalmente dois acampamentos, o próximo à caixa de registro e outro seguindo em direção ao Serro verde (olhe para o "PP" e siga em frente uns 20 metros do primeiro acampamento), você passará umas 4 pedras e estará em um novo ponto de repouso, na minha opinião, menos nivelado, porém com vista mais bela!

Está aí o relato do trajeto.

A trilha em síntese é classificada como difícil a moderada, sendo uma das montanhas com vista mais bela de todo o conjunto do Ibitiraquire, pois, como dito, proporciona uma vista de todas as montanhas da região sob uma perspectiva diferenciada.

Quanto aos itens necessários, para um trekking de um dia são essenciais os utensílios de costume, ou seja, muita água, boné, protetor, comida de alto índice energético, bons calçados, mochila de 20-30 litros, bastões de caminhada, bússola, GPS, celular e itens que entender necessários. Para trekking com pernoite, são os básicos, barraca, lanterna, pilhas extra, comida, fogareiro, bastões de caminhada, muita água, isolante térmico, saco de dormir e itens de costume.

Espero que na próxima empreitada você esteja conosco! Colocando o Pé na trilha e nos ajudando relatar os caminhos do Brasil!

Seguem as fotos da expedição:



Na fazenda do "bolinha". Cargueiras Lucas e Rodrigo.

Da esquerda para a direita: Lucas, Chaleira e Rodrigo

Fazenda do "Bolinha". Portãozinho. Início da trilha.

Caminhada até início da mata.

Rodrigo no começo da trilha.

Estilo das marcações. As faixas até a placa possuem cores aleatórias, variando do laranja ao amarelo.

Lucas e Chaleira abastecendo de água.

Rodrigo abastecido.

Estilo da trilha e marcações.

Segundo rio.

Segundo rio. Rodrigo em primeiro plano. Lucas ao fundo.

Figueira característica da trilha. Rodrigo, Chaleira e Lucas.

Aproveite a paisagem. Existem árvores centenárias durante a trilha. Aprecie adequadamente!

Lucas. Terceiro rio.

Após o terceiro rio, depois de alguns minutos de caminhada, chega-se a esta árvore imensa de nome indígena. Lucas na foto.

Chaleira e a árvore gigante!

Rodrigo.

Lucas e Chaleira.

Placa indicativa do caminho para Tucum! ATENÇÃO!

Saída da mata densa e início da subida ao cume do Camapuã.

Saída da mata. Início da encosta do Camapuã.

Iniciando a subida. Muito fôlego, fé, força e garra!

Lucas e Chaleira na primeira encosta do Camapuã.

Segunda lançante do Camapuã. Rodrigo e Lucas.

Vista do Camapuã - Face para a BR 116

A subida sem fim!

Eu vou, eu vou subindo agora eu vou!

O chaleira e suas botinas de paraquedista!

Inclinação contínua da encosta do Camapuã. Puxado com muito peso.

Cume do Camapuã. Ao fundo o colosso "PP".

Ponto de descanso no Camapuã.

Pico Paraná, visto do Camapuã

Pausa com direito a pêssego em calda. Foto parcialmente censurada devido às falhas técnicas da bermuda do Lucas!

Seguindo rumo ao Tucum. Viva a chalera velha de guerra!

Descendo o Camapuã para o vale entre ele e o Tucum.
Parada para verificar a situação da bica existente no vale. Se você não conhece a região não se arrisque!

Cume do Tucum! Mar de nuvens!

Lucas no cume do tucum.

Rodrigo no cume do Tucum. Ao fundo o colossal Pico Paraná.

Marco do cume do Tucum.

Caixa de Registro. Acampamento principal à direita.

Valeuuuu galera! Livro de registro!

AMC sempre presente. A altura dos montes a Deus pertence!

Vai dizer que não é um Hotel 5 estrelas!

Rodrigo e Lucas. Partida rumo à base!

Da esquerda para a direita: Rodrigo, Lucas e Chaleira.

Chaleira antes da descida do cume do Tucum.

Local onde acampamos.

Contemplando pela última vez a paisagem! Obrigado Deus! Em primeiro plano Rodrigo. Ao fundo Chaleira e Lucas.

Despedida do Pico Paraná! Até breve meu velho amigo!



Mapinha de acesso à fazenda do "Bolinha". Caso queira perguntar, pergunte pela entrada para a lagoa vermelha.

Perfil de altitude até o Tucum, partindo da fazenda do "bolinha".

2 comentários:

  1. Show de bola!!! Parabéns!!!
    A bica do Tucum estava seca? E nem chegou o inverno...
    Otávio - AMC

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  2. Obrigado amigo Otávio! Espero que nós possamos dar umas pernadas juntos algum dia desses!

    Pois é, infelizmente estava seca! A sorte é que nos prevenimos e pegamos água no último riacho. As outras fontes de água estavam meio sujas.

    Não sei como a bica ficou na volta, pois no dia seguinte na trilha dps do camapuã, durante um bom trecho, a água nos acompanhava em um longo período da descida.

    Grande abraço! Deus o abençoe e boas pernadas!

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